terça-feira, 5 de junho de 2012

CRÔNICA | Horário de Almoço inusitado



 
 Hoje, quando descansava do almoço no trabalho, aconteceu uma situação inusitada. Chegou uma mulher toda arrumada. Ela aparentava mais idade, mas se vestia de uma maneira diferente. Vestido curto com um decote bem provocante, salto alto e uma maquiagem bem chamativa. Convidei-a para entrar, ela entrou e falou:

   - Oi meu nome é Maria, o Pedro se encontra?

   Pedro é o nome do meu gerente que estava no seu horário de almoço. Eu, gentilmente a respondi:

   - O Pedro não tá. Ele saiu pra almoçar, só volta as 14:00hs.

   - Menina, não me fale uma coisa dessas. É sério?

   - Sim, Dona Maria. Ele só voltará as 14:00hs.

   - Posso esperar? É que tenho que resolver esse problema hoje.

  Todo trabalhador tem no mínimo uma hora de almoço, para fazer sua refeição e depois descansar, ler, conversar no Facebook, falar com o namorado ou marido, enfim, fazer o que quiser dentro desse período. Eu também estava em meu horário de almoço. Mas, fiquei sem jeito e respondi que ela podia esperar.
   Ela tomou agua, café e sentou no sofá. Falou ao telefone e eu sentada em frente ao computador lendo algumas besteiras na internet. O que eu queria mesmo era dormir no sofá, coisa que faço todos os dias. Em poucos segundos, eu já era a sua B.F.F (Best friend forever).

   - Amiga, eu tenho que resolver esse problema hoje. Tenho que pegar essa documentação com o Pedro, e levar pro "corno do meu marido" assinar.

    Eu, meio assustada com o adjetivo que ela descreveu o marido, sorri sem graça. E ela continuou.

  - Amiga, eu tenho que resolver isso o mais breve possível. Aquele cachorro tem que assinar esses papeis, hoje!

   - E que papeis são esses? Perguntei.

   - É o distrato de um terreno que compramos. Quando vivíamos juntos. Antes de ele me trocar, por uma "vagabunda". Nessa época que a gente, se separou eu fiquei doente, com depressão. Não tinha ânimo de nada, deixei de trabalhar e deixei de pagar o terreno. Agora, depois de três anos, fiz um acordo com o Pedro e vou ser ressarcida pelo menos de 10% do que paguei. Só que eu preciso ter a assinatura do "vagabundo" do meu marido, que na verdade é ex.

   - Mas a Senhora, não está separada?

   - Não. Porque todos os meses, eu recebo R$ 4.000,00 em minha casa. Se eu me divorciar só vai chegar R$ 500,00 reais. Quero arrancar tudo o que aquele "cachorro" tem pra ele pagar tudo o que ele fez comigo.

   Fiquei sem entender a questão do dinheiro mais não quis perguntar. Depois desse momento, sentir que ela estava querendo conversar. E comecei a olha-la de outra forma. Deixei de lado o desconforto, que ela estava me causando, e comecei a tentar decifrá-la, por meio de suas palavras. Acho que ela percebeu que eu estava lhe olhando com mais atenção e desabafou.

   - Tu acreditas que ele me trocou por uma garota de 18 anos? Uma vagabunda que era amiga da nossa filha. Ela destruiu minha família, tudo o que tinha na vida. Pensei que ia morrer, mas dei a volta por cima. Demorou mais dei a volta por cima. Comecei a trabalhar, malhar, dançar. Fazer amigos, curti a vida. Dei-me valor, e hoje todos falam que sou mais bonita que ela, mesmo eu sendo mais velha. Ontem, aconteceu o que em três anos, eu esperei tanto. Amiga, ele me ligou pedindo pra marcarmos um encontro. Que estava com saudades, que queria conversar. Nem dei o trabalho de falar nada, quando ele acabou de dizer tudo. Eu disse apenas, “Não te quero mais. Sou mais eu." e desliguei na cara dele.

   Ela olhou pra mim, esperando que eu falasse alguma coisa. Eu apenas sorri, e novamente ela falou.

   - Estou me sentindo muito bem. É tão bom né, quando damos o troco?

   - É eu imagino que pra você deve ter sido muito bom, o sabor da vitória.

   - Bom, não. Foi maravilhoso! Disse com um sorriso, de orelha a orelha.

   Nesse instante ela recebeu uma ligação, e disse que tinha que ir embora. Me agradeceu e saiu. Quando ela fechou a porta, fiquei pensando em tudo o que ela me falou. Não, no fato de seu marido ter lhe traído, nem ela ter sido trocada por uma garota mais nova, nem tão pouco, no seu grande troco. E sim, de como aquela mulher em apenas trinta minutos, esqueceu-se do problema do terreno e contou um momento intimo de sua vida, pra uma pessoa desconhecida, sem vinculo algum. Fiquei pensando, que muitas pessoas não têm amigos e familiares que dê essa segurança para que desabafem.
   Às vezes estamos ocupados, por conta da nossa vida diária, que não paramos pra ouvir, um amigo, um filho, um pai, um irmão. Fiquei feliz, em saber que hoje no meu horário de almoço, deixei de pensar apenas em mim e consegui ajudar uma pessoa, com o simples fato de tê-la escutado.

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